Somos

Ao mesmo tempo, somos tantas coisas:

Pensadores, palhaços, escarnecedores...

Nos isolamos da realidade em bolhas de sabão coloridas.

Os homens usam azul, as mulheres calçam rosa.

Os homens pagam a conta e trocam a lâmpada...

As mulheres se revoltam com isso, exigindo liberdade.

Trazemos crianças ao mundo, brincando de Deus irresponsável,

Sem psicologia ou filosofia, criamos os rebentos ao sabor do consumo.

Perdemos os filhos dos outros quando armamos os nossos.

Sem conceitos e sem experiências, costuramos mal o manto de nossas vidas,

Desferimos golpes ao nos sentirmos ameaçados,

Defesa ligeira, ataque veloz, guarda sempre alta.

Defendemos os nossos mesmo que estejam errados.

Prendemos os outros.

Sem liberdade, encarcerados, não causam mal algum.

De dentro do cárcere matam os livres e amealham riquezas.

Fugimos para o mato, mas mato já quase não há...

Queimamos para fazer carvão.

Nos embebedamos e alimentamos os vícios da carne

Encalacrados no labirinto, derrubamos as paredes e criamos novas regras.

Eleger, matar, recriar, ensinar, relembrar, tudo...

Tudo outra vez. Até que não esqueçamos mais. Tudo de novo.

Mas somente a média para ser aprovado, afinal

De que me serve tanta informação, tanta coisa inútil, tanta filosofia de cordel?

O que você quer ser?

Serei um engenheiro, um médico ou um advogado. Ainda não sei.

Pensando bem, se quem me pariu não sabe o que fez, nem o que era,

Como eu, que não sei quem sou, posso saber o que serei...

É só escolher?

André Machry