sexta-feira, 22 de junho de 2012


A Bula de José

A mão no bolso
Pouco dinheiro, um trocado
Parei e tomei uma cerveja... sobrou 50 centavos.

A mão no bolso
Pouco dinheiro, um troquinho somente
Parei e comprei leite... 3 pães.

Com a gula que minha filha engolia o pão
Minha fome era saciada.
Me calava com a boca vazia e o peito leve.

A mão no bolso
Nada de dinheiro, só moedas
Comprei uma dose de cachaça.

Hoje ninguém come o pão
Mas bebe o leite com biscoitos...
Eu sou o culpado.

Mão no bolso
Uma arma?
Uma faca?
Eu contraí família...
Eu.

É do meu bolso que sai.
Preciso de mais uma dose.
Preciso sair daqui...













quinta-feira, 1 de março de 2012

A Ilha

Trabalhamos, estudamos, desembaraçamos.
A vida inteira nos consumimos nisso, como uma vela.
Estamos produzindo. Alimentamos os sistemas, mantemos o organismo vivo.
Elaboramos planos em reuniões, feeding the monster.
Quase não conseguimos ler ao pôr do sol. Acordar tarde muitos dias seguidamente.
Trocar o dia pela noite, o 'não' encardido dos horários pelo 'sim' animado das horas.
Uma varanda sobre o mar. Um sótão sob o céu. O simples e majestoso 'andar nu'.
Quando envelhecemos por dentro após tantos anos de escravidão capitalista,
Quando nos damos conta do fim com a rejeição da sociedade aos 'velhos';
Quando deixamos de compor ativamente o nosso belo quadro social;
Já é tarde.
Preferimos descansar. Dormir sossegadamente.
Sem sermos mais compreendidos, envelhecemos como em uma cela,
Em um quarto de manicômio.
Ali ruminamos o passado de 'glórias', condenando o presente ensurdecedor.
Uma juventude sem valores e a música moderna sem ritmo, sem conteúdo.
Já é tarde.

E alguns sentiriam vertigem na varanda, ou no sótão.

Viver e gozar de nossa existência ao mesmo tempo... são bem poucos que podem.
Mesmo assim, ilhados, não conseguem ter uma referência.
Ninguém mais (ao seu redor) o faz.

Ficam lá.
'A ver navios'.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Ah, sim

Tenho telhas de vidro no teto de minha varanda.
Não há sol.
Mas estão lá.
Queria muito vê-las por lá.
Sua transparência me faz ver o sol.
Quando não há,
Sim, quando não há sol,
Vejo o cinza, o anti-sol, a sombra da nuvem,
Vejo.
Quero ver, ver e entender, quantificar e isolar na análise.
Minha telha de vidro na varanda,
Porta, janela, sala e alpendre,
Solo seco em que planto o meu ver.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

O que é...?

O que deixo para traz
O rastro,
O pó.
A mancha de ter estado por aqui,
De ter passado ignominiosamente..
Vivemos de passado,
De consumir aquilo que fabricamos em moral,
Que fabricamos.
De música em música, de apelo em apelo...
Sempre estaremos sós.
Mesmo com a família mais numerosa,
Com os amigos mais empenhados.
Sempre sós.
Até o dia da prova, do cheque mate...
Do final iniciando... veremos nossos amigos.
Nossos comparsas,
Neste plano infalível, incontestável e impraticável!

Machry