Quando uma criança passa por uma cirurgia corriqueira de hérnia, normalmente recebe o apoio dos pais, que apreensivos, aguardam na sala de espera um desfecho feliz anunciado pelo médico.
Não foi bem assim que aconteceu com o norte-americano Joseph Kallinger. Aos cinco anos foi à sala de cirurgia consciente de que um demônio seria retirado de seu órgão genital. Essa criatura é que fazia com que seu pênis ficasse ereto e produzisse uma espécie de sensação demoníaca, um desejo e fazer coisas sujas e más com as mulheres. Com o tempo começou a ter alucinações, visões de seu pênis amputado e pendendo de uma faca de sapateiro, igual a que seu padrasto usava em seu ofício. Era o nascimento de uma criatura perturbada e sofredora, diagnosticado esquizofrênico paranóico, que deixaria uma triste pegada na história dos contos policiais.
O jovem Kallinger desenvolveu uma estranha fixação sexual por facas. Só conseguia ter ereção e se relacionar com suas parceiras as empunhando. Houve épocas em que seu orgasmo era vinculado à esses instrumentos, que mantinha sempre à mão nesses momentos especiais.
Em sua visões paranóicas, Deus teria lhe dito para construir um sapato especial, que ao ser calçado curasse as mazelas espirituais das pessoas. Após quarenta mil pares de sapatos fabricados, o exausto Joseph chegou à conclusão de que havia falhado. Então o Diabo lhe apareceu ordenando que a humanidade devia ser extinta, através da esterilização dos homens, mulheres e crianças. Essa esterilização se daria pela mutilação de seus órgãos genitais. Alegou também ouvir uma cantilena fantasmagórica, a qual chamava de 'A Voz do Poço', que se comunicava com ele num idioma que só ambos entendiam.
Kallinger fez de seu filho mais velho a primeira vítima. Foi a alucinação de 'Charlie', uma cabeça flutuante sem nariz e boca que o incitava a cometer novos crimes. Na prisão, descreveu a uma jornalista que a referida cabeça era o seu primogênito.
Com o auxílio de seu filho mais novo de doze anos, Michael, fez mais três vítimas e foi preso. Morreu na cadeia em 1996, após diversas tentativas de suicídio e de tentar matar colegas de cela. Escreveu diversos poemas e ditou detalhadamente suas atribulações.
Joseph Kallinger, 'O Sapateiro'.
Sofreu com distúrbios mentais. Viveu em uma realidade paralela em que vozes e seres imaginários lhe ditavam ordens despóticamente. Provou do caos e do desconforto intenso de viver no limbo, uma espécie de câmara de sofrimento eterno, que o colocava à parte, à margem da sociedade.
O Bem e o Mal são controláveis? Joseph desejava o sofrimento de suas vítimas ou era vítima dela? Foi declarado culpado por nós. Um monstro que até hoje nos faz refletir profundamente.
André Machry
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